Depoimento de um arquiteto

Ana Lucia, Lúcia e Silvana,

Aceitei o convite feito na carta ao leitor de vocês…

No final do ano passado comprei e li o livro que vocês organizaram e escreveram. Acho que foram umas três ou quatro sentadas para dar fim a leitura.Mesmos antes do convite formal, enquanto lia, me sentia tentado a contar o que passava na minha cabeça. Escrevo agora sem o frescor das emoções e reflexões que a leitura me proporcionou, mas este é o tempo…

Para vocês entenderem um pouco de onde estou falando… Sou arquiteto e trabalho há muitos anos com reformas, projeto e obra. Há cinco anos passei a acompanhar uma obra de construção em mutirão que me jogou dentro da necessidade do conversar e do escutar e dos processos de procura coletiva de saídas impensadas para situações muito difíceis. Há um ano e pouco, participo do trabalho da Ana Lucia nos grupos de mediação na EMEF Amorim Lima, onde tomei contato e me envolvi fortemente com esta estória de mediação.

Lindo!

Lindo livro!

Li com muito prazer.

Fiquei imaginando que na literatura judiciária não deva haver nada parecido enquanto forma. Vejo uma coerência entre forma e conteúdos impressionante. O livro é todo pensado.

Entrei na do livro, na proposta, na aposta.

Por traz da capa preta, sisuda, o livro se abre como um sorriso. Um não, três, o do gato, o da aranha e o da formiga. Este sorriso se constrói, pacientemente. Quem não o viu no ínicio, acho que o sentiu ao final.

Vi um livro colorido. Um rombo azul no céu cinzento do sistema judiciário. A “réstia de luz” expressa pela Lídia é eufêmica para mim, embora intua que, talvez, esta réstia já seja muito na perspectiva de quem está tão dentro. Estou fora e fui convidado a ver através deste rombo um pouco do dentro. Os desenhos, que são na verdade colagens de partes que se organizam cada hora de uma maneira, tem cor. O prisma, representação da decomposição da luz, carrega as cores.

O livro me emocionou muito. É engraçado, os anexos me pegaram logo de cara, as cartas para o juízes e advogados, compromissos de sigilo, todos escritos de maneira direta, linguagem simples, sem dubiedade. Para todos, inclusive o leitor, entenderem. A coerência dos princípios do trabalho explicitadas a todo o momento, no metaprocesso de elaboração dos imeius para a implantação do projeto no fórum e as cartas como metacomunicação, compartilhando com todos princípios do trabalho ainda por acontecer. Tudo sobre a mesa. Não conheço processos judicais mas tenho a impressão que eles se baseiam muito no que é velado, operação absolutamente contrária… Vejo uma coerência admirável nos processos de reflexão e prática, sutilmente explicita a todos envolvidos os desejos de uma mudança. De algum modo, acho que todo mundo que escreve no livro, viu na implantação desse projeto, a sua própria necessidade de transformação. O céu cinzento me pareceu solo fértil.

O anexo VII, ítem 4, é incrível! Pra mim, mostra claramente uma quebra de engrenagem da máquina. Penetra no meio dos processos, abrindo uma porta de saída para a máxima do cinema policial, tudo o que disser poderá ser usado contra você. Subversão por dentro (mais uma imagem do rombo). Aponta para a autoresponsabilização, autonomia, afirmação da subjetividade, reconhecimento da legitimidade do lugar do outro… abre a possibilidade de saídas absolutamente despadronizadas. Uma construção coletiva do possível.

No capítulo dos “pressupostos”, as ideias de intersubjetividade, instabilidade e complexidade me jogaram na valorização clara do tempo presente; este tempo como descoberta constante, um verdadeiro “presente” para nós mesmos.  Este tempo presente me levou à ideia de impermanência, na fusão do ser e do estar. Fico pensando se estes pressupostos de ação não apontam para a construção da igualdade do ser humano. Esta igualdade tem ser construída de fato, no momento, no presente. Não é um dado. A subjetividade de cada um quando garantida permite criar junto. Quando todos criam abrem-se as portas para a arte, para a poesia, expressões profundas da subjetividade. O trabalho de vocês bate nessas portas também!

É bonito ver os princípios da Mediação extrapolando o trabalho em si, porque fazem sentido em outros campos da vida. O Marcelo deixa isso bem claro, tem que administrar relações, e nesse processo de implantação da Mediação no Fórum, foi lhe apresentada uma ferramenta livre que pode ser usada por ele… eu também sinto que posso. É ferramenta para quem quiser usá-la. Não é dom. O projeto do Paulo, Fórum Fácil, pra mim mostra a sintonia latente da força do acolhimento na transformação das relações. Ele sabe, pensa e faz. O setor técnico encontrou um parceiro de escuta das propriedades do seu trabalho. O texto da Lídia me mostra como há um compasso compartilhado de sentido com o trabalho de Mediação. Ela sente a quantidade de oxigênio que pode ser injetada no sistema judiciário por este caminho. Enxerga o potencial e o perigo da transformação política inerente na Mediação, por isso, de novo é bastante eufêmica e cuidadosa na forma de se colocar. Fala em briga com o sistema… Quem vai comprá-la junto com as três mediadoras voluntárias? Quem quer, de fato, mexer nas relações de poder? Os juízes? Gosto da subversão carregada de rigores. Pra mim é trabalho com potência.

A “metacomunicação” presente em todo o processo de trabalho foi sempre explicitada. Ela é tom e corpo do livro. Me senti como leitor naturalmente participante dos processos da mediação… Lendo, senti necessidade de escrever. Escrevi, tinha espaço pra mim. Tive vontade compartilhar alguns pensamentos e sensações com vocês, é o que faço aqui da maneira que consegui.

Muito trabalho.

Lindo trabalho.

Bom trabalho.

Beijos pra vocês,

Fernando Nigro Rodrigues

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Diálogos transdisciplinares – convite para um diálogo sobre Mediação…

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Como uma abordagem transdisciplinar, a Mediação se produz no encontro, na articulação e na afetação recíproca dos diversos saberes.

Além de apresentar nosso trabalho de Mediação no contexto judicial, gostaríamos de compartilhar e trocar impressões e reflexões sobre esse novo modo de fazer justiça em que se cuida das relações e das pessoas, onde cada um toma seu lugar de autor, incrementa seu sentido de cidadania, autonomia e responsabilidade.

Que os diferentes atravessamentos das nossas atividades, nos diferentes contextos ocupados por cada um de nós, alimentem nosso sistema interativo e nos leve para novas dimensões de realidade.

Venha produzir este encontro conosco!

Ana Lucia, Lúcia e Silvana.

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Workshop – Mediadores voluntários conversam com o Judiciário

ESCOLA SUPERIOR DO MINISTÉRIO PÚBLICO DE SÃO PAULO

29 de novembro de 2012 (quinta-feira)
Das 08h30 às 12h00

Local: Auditório do Centro de Estudos e Aperfeiçoamento Funcional/Escola Superior do Ministério Público de São Paulo
Rua Treze de Maio, 1.259 – Bela Vista
– SÃO PAULO – SP

– Publico Alvo

Mediadores voluntários que atuam em Fóruns, Centros de Justiça e Cidadania – CEJUSC’s e alunos dos Cursos de Formação, Conciliação e Arbitragem.

– Programação

08h30 – 10h00 – Apresentação dos trabalhos.

Tema: Conciliação, Mediação e Negociação: parâmetros de Mediação.

Expositor:

Dr. RICARDO PEREIRA JUNIOR
Juiz Titular da 12ª Vara da Família e Sucessões da Comarca de São Paulo

Tema: Mediação no Judiciário, desafios e reflexões sobre uma experiência.

Expositores:

DRA. SILVANA CAPPANARI
Psicóloga, Terapeuta Individual de Casal e Família, Mediadora e Consultora

DRA. ANA LUCIA CATÃO
Pesquisadora, Mediadora e Consultora, Advogada, Mestre em psicologia social pela PUC/SP

DRA. LUCIA FIALHO CRONEMBERGER
Assistente Social, Socióloga e Mediadora

10h00 – 11h15 – Coffee Break

veja programação completa

Depoimento de uma psicopedagoga professora universitária

Vocês estão de parabéns pelo trabalho delicado e rigoroso e, ao mesmo tempo, realizado num contexto tradicional e pleno de rituais.
 
Além disso, o cuidadoso registro que fizeram apresenta o tema como resultado de uma pesquisa qualitativa de grande valor.
 
Nosso país precisa de trabalhos e dedicação de profissionais sérios e vamos em frente trabalhando para uma maior justiça social e um melhor relacionamento entre os sujeitos.
 
Beijos, MCecilia
 

Profª Drª Maria Cecília Sonzogno
CEDESS / UNIFESP